domingo, 27 de outubro de 2013

Foi assim que aconteceu (parte I).

Tanto por escrever, muitas semanas e acontecimentos para registar. Vou fazê-lo por partes,  nos momentos em que dormes, antes que a memória me atraiçoe.

Na consulta das 34s2d, vimos-te activa e a chuchar imenso no dedo mínimo, com um peso estimado de 2550g e 45cm, com óptimos parâmetros de vitalidade. Ficámos a admirar-te alguns minutos entretida com o treino da sucção, com direito a soluços. O médico chamou-te mamona e, como sempre, fez-te imensos elogios. Saímos da consulta com o coração cheio e imensamente orgulhosos de ti, ali tão crescida e cheia de energia.

Uma semana depois, passei o domingo sem te sentir como habitual. Estiveste muito calma durante o dia e por volta das 23h decidimos ir ao serviço de urgência para acalmar este coração de mãe. Estavas bem, mexida e com boa dinâmica e vitalidade. Eu apresentei contracções regulares, embora não sentisse dor, não apresentava sinais de que o trabalho de parto se iria iniciar em breve. Tivemos alta e assim se passou mais uma semana.

Na consulta das 36s2d, vimos-te ainda mais crescida, com um peso estimado de 2890g e 47cm e, mais uma vez, a chuchar no dedo! As contracções eram cada vez mais incomodativas, mas abrandavam por vezes e não havia indícios que algo estivesse para acontecer. No fim de semana estive ocupada com os preparativos da festa de aniversário do primo Zé Pedro e assim passámos o domingo, dia 6 de Outubro. Muita comida engordativa, doces e salgados, soube-me tão bem!! Há meses que não comia assim!

Eram 22horas quando achei por bem vir embora, com contracções de 8 em 8 minutos, não muito dolorosas, mas incomodativas. Chegada a casa, depois de um duche com água bem quente, fui dormir, ou tentar. Tu estavas muito mexida, com movimentos muito bruscos e as contracções também não abrandavam. Eram 4h da manhã quando decidimos ir às urgências, ver o que se passava connosco. O CTG não acusou contracções e o exame ao colo uterino (extremamente doloroso) ditou que estávamos com dois dedos de dilatação e que o trabalho de parto poderia estar ou não iminente. Tanto poderias nascer naquele dia, como uma ou duas semanas depois. A verdade é que eu há mais de uma semana que me sentia diferente, sentia que nascerias antes do tempo, para preocupação minha.
Enviei mensagem ao meu médico, eram 6h da manhã, explicando o sucedido e a pedir que me ligasse. Consegui descansar um pouco e às 8h da manhã ainda não tinha recebido nenhuma resposta do médico e liguei-lhe com alguma ansiedade. Tinhamos cesariana marcada para dia 23 de Outubro (39s1d), era dia 7 e eu estava no impasse de entrar ou não em trabalho de parto activo e não sabia o que fazer. Não queria antecipar a cesariana, não queria fazer-te nascer antes do tempo que considero razoável, mas também não queria que tudo acontecesse de urgência e que algo falhasse ao tentar reunir a equipa para a cesariana. Não tinhas ainda 37 semanas, estava preocupada com a tua maturidade respiratória e o local que tinhamos decidido ser o do teu nascimento. Queria que aguentasses, no mínimo, até às 38 semanas. Queria saber-te bem e pronta para vir ao mundo.
Perdida nestes pensamentos e sabendo que se entrasse novamente no SU, já não de lá saíria, aguardava que o médico me devolvesse a chamada. A ligação era péssima, ele ouvia-me mal e ficou com a minha resposta de "sim, continuo com contracções" antes de me dizer que voltaria a ligar-me em cinco minutos, pois estava sem rede.
Eram cerca de 9h00 quando tenho três ou quatro contracções seguidas, sem intervalo. Mexes-te muito bruscamente, num movimento rápido e logo após sinto um plocc e água, muita água quente a subir-me pelas costas acima. "Rebentaram-me as águas!!", gritei para o teu pai que tentava dormir. Ele dá um salto na cama, com um "ooooh" e sai do quarto, numa pressa desmedida, deixando-me no meio daquela piscina de líquido amniótico. Esqueceu-se que eu é que te tinha em mim, que eu também precisava de me arranjar para nos dirigirmos ao hospital e que só comigo lá é que nascerias. Quando dei por mim, já ele estava com as malas nas maos, banho tomado e vestido e eu ali, de pé, a tentar não molhar ainda mais o colchão e a enviar sms ao médico a dizer "rebentou a bolsa".
Eu estava calma. Muito calma. O teu pai estava nervosíssimo e num estado de ansiedade muito difícil de controlar, chegou a ter piada! Afinal, ele estava pronto para ir para o hospital para ter a filha nos braços, mas quase deixando a mulher grávida em casa!!
Entretanto a tua avó chegou, ajudou-me a tomar banho, ainda me tirou as últimas fotos grávida, ainda me filmou ao mesmo tempo que me entrevistava e ajudou-me a vestir. Vesti-me cerca de três vezes, pareciam litros e litros de líquido amniótico a escorrer por mim abaixo, a torneira não fechava nunca.
Já pronta para sair, recebo finalmente a chamada do médico. Discutimos a tua idade gestacional e o risco de nasceres num hospital privado, falei-lhe do meu receio e ele tranquilizou-me, deixando-me completamente à vontade para escolher o hospital onde te receberia. Lembrou-me que mostraste sempre sinais de óptimo desenvolvimento e maturidade, assim como vitalidade, que teria a certeza que estavas pronta e que não precisarias de cuidados especiais, que o pediatra da equipa era extremamente experiente caso fosse preciso agir. E eu decidi confiar e acreditar que tudo correria pelo melhor.
A verdade é que me senti aliviada. Senti que afinal foste tu que decidiste nascer, no dia que definiste como sendo o teu, no momento que escolheste como certo. Não fomos nós que te tirámos de mim, que forçámos o teu nascimento. Tu quiseste nascer. Tu fizeste com que eu não tivesse que tomar a decisão do dia e altura que mais me convinha, escolhendo a data mais bonita, sentindo-me culpada por não deixar a natureza tomar o seu rumo. Tu tornaste tudo mais fácil, mostrando que estarias pronta para vir ao mundo.

Saímos então rumo à Casa de Saúde da Boavista, insituição que te viu nascer, na presença daquelas que muito têm a ver com o teu nome, as Irmãs Franciscanas.
Chegámos ao mesmo tempo que o médico, que me abraçou com um sorriso rasgado e disse-me "é hoje, ela assim quis e vai correr tudo bem".

(continuo quando tiver mais um tempinho enquanto dormes).

2 comentários:

  1. Oh querida muitos parabéns!
    Adorei ler este relato e ficarei à espera da segunda parte :D
    Espero que continue a correr tudo bem com a princesa.
    Muitas felicidades e uma beijoca para os 3 :*

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